SOCIEDADE
E COMUNIDADE. SOCIOLOGIA.
Em
meio à intensidade da globalização, eis que ressurge a tendência à valorização
do próximo. Paradoxalmente, apesar do fascínio pela informação
internacionalizada e pela aparente homogeneização de valores, revitaliza-se o
apreço pelo local, pela comunidade, pelo familiar. Não se nega as vantagens do
mundo globalizado, entretanto, o interesse pelas raízes insere-se nesta
complexidade a ponto de fazer-nos ver o mundo por meio das relações e
articulações entre global e local e não mais apenas pela globalização.
COMUNIDADE
Para
identificar, descrever e analisar uma comunidade é preciso estar diante de
grupos sociais unidos por laços afetivos. A proximidade física entre as
pessoas, que a vida em pequenas comunidades proporciona, permite
vínculos mais afetivos entre elas e, portanto, um maior sentimento de
solidariedade.
CARACTERÍSTICAS DA COMUNIDADE
o NITIDEZ –
É o limite territorial claro da comunidade, ou seja, onde ela começa e onde ela
acaba.
o PEQUENEZ –
A comunidade é, em si a unidade de observação pessoal ou, então, sendo um pouco
maior, porém homogênea, proporciona uma unidade de observação pessoal
plenamente representativa do todo.
o HOMOGENEIDADE –
As atividades e o estado de espírito são muito semelhantes para todas as
pessoas de sexo e idade correspondentes; o curso de uma geração é semelhante ao
da precedente.
o AUTO-SUFICIÊNCIA –
É o que proporciona todas ou a maioria das atividades que atendem às
necessidades de seus membros.
Ao
mesmo tempo, a pequena comunidade cultiva uma forma de vida que acompanha seus
membros do berço ao túmulo.
A
INTERNET E AS COMUNIDADES VIRTUAIS
Nas
grandes cidades de todo o mundo assiste-se hoje à formação de micro grupos, de
tribos urbanas como os punks, os surfistas, os rappers, as gangues de periferia
cujos membros não têm outro objetivo senão o de estarem juntos.
Ao
lado deles surgem também grupos (comunidades virtuais) formados pelo contato
virtual proporcionado por redes de computadores como a Internet. Nessas novas
“comunidades virtuais” ocorre a inversão do processo de formação dos laços de
afinidade social, cuja comunicação é eletrônica. A presença física deixa de ser
uma das precondições para a realização do contato.
As
tribos eletrônicas, que se formaram no coração do ciberespaço, são expoentes da
era tecnológica, que está promovendo o casamento entre a informática e as novas
formas de sociabilidade pós-modernas. A cibercultura é um fenômeno recente, em
expansão continua, e como tal, sem regras e limites ainda definidos,
funcionando basicamente a partir de uma comunicação espontânea, sem que se
saiba quem é e onde está o outro.
O
QUE MANTÉM AS COMUNIDADES
À
medida que a industrialização e a urbanização avançam, as comunidades
tradicionais ainda se mantinham unidas, mais por uma necessidade imposta
socialmente do que por aquilo que seus integrantes tinham em comum, e com o
tempo foram perdendo o poder de integração.
É
o que acontece com a família, que não está em franca decadência. Mesmo com um
grande número de casamentos que tem terminado em divórcio, principalmente nos
grandes centros urbanos. Nas obras de literatura do séc. XIX vemos exemplos de
famílias desfeitas, mas que permaneciam unidas mantendo as aparências imposta
pela sociedade, apenas para representar um papel social. No início do séc. XX,
vemos cenas comuns de pai que expulsa de casa a filha que dava a luz um filho
ilegítimo, sobrava a ela poucas opções sociais, além de doar a criança, se
prostituir e o suicídio. Hoje, a ligação familiar é uma associação voluntária,
afetiva e de respeito mútuo e não se dá mais por uma imposição social.
Entretanto,
a mobilidade geográfica e ocupacional de hoje, de forma geral, retira as
pessoas do lugar e da classe social a quem pertencem, ou da cultura em que
nasceram, em que estiveram presentes seus pais, irmãos e outros familiares.
Atua, assim, no sentido de desagregar a unidade familiar. Ocorrendo assim, o
desaparecimento gradativo das formas de comunicação tradicionais e de um modo
de vida comunitário que obriga as pessoas a criar novas formas de relacionamento,
novas associações, um outro tipo de organização pessoal.
SOCIEDADE
Os
sociólogos fazem a distinção entre sociedade (seria uma associação humana
caracterizada por relações baseadas em convenções e não laços afetivos) e
comunidade.
Para
o sociólogo alemão Ferdinand Tönnies (1855-1936), enquanto a comunidade está
ligada internamente por uma vontade coletiva natural, na sociedade predomina a
vontade artificial, deliberativa, proposital.
TIPOS
DE SOCIEDADE:
o COMUNITÁRIA
§ É
tipicamente pequena, com divisão simples do trabalho;
§ As
relações sociais são duradouras,
§ Os
contatos sociais predominantes são os primários,
§ Compartilham
as experiências individuais,
§ O
comportamento é largamente regulado pelos costumes,
§ Há
pouca necessidade de Lei formal (faz-se pela tradição).
o SOCIETÁRIA:
§ Acentuada
divisão do trabalho,
§ Proliferação
de papeis,
§ Estrutura
complexa,
§ Divergência
de crenças, costumes e valores,
§ Frouxamente
articulada,
§ Dificuldade
de consenso.
SOCIEDADE
SOCIETÁRIA
As
grandes metrópoles contemporâneas caracteriza pela acentuada divisão do
trabalho e pela proliferação de papéis sociais. As relações sociais tendem a
ser transitórias, superficiais e impessoais. Os indivíduos associam-se uns aos
outros em função de determinados propósitos limitados. A vida perde a coesão
unitária que mantinha estável a antiga comunidade. O trabalho fica distanciado
da família e do lazer. A religião tende a continuar-se a determinadas ocasiões
e lugares, em vez de fazer parte do convívio cotidiano das pessoas. Nessa
estrutura social, a família deixa de ser o centro de união do grupo.
Na
sociedade societária, os interesses comuns muitas vezes entram em conflito, e
perde-se em grande parte a força de tradição. A relativa uniformidade de
pensamentos da comunidade é substituída por uma enorme variedade de interesses
e idéias divergentes. São relativamente poucas as crenças, os valores e padrões
de comportamentos universalmente aceitos. A integração é frouxa e o grau de
consenso tende a diminuir e isso pode provocar uma freqüência maior de
situações de conflito.
UMA
TRADIÇÃO DOLOROSA
A
distinção entre comunidade (sociedade comunitária) e sociedade societária
proporciona instrumentos para a interpretação de sociedade contemporânea. Com o
avanço da industrialização e da globalização, as sociedades comunitárias tendem
a se transformar rapidamente em sociedades societárias. Manifestações desse
processo são o crescimento sistemático das cidades, o declínio da importância
da família, a ampliação do poder da burocracia, o enfraquecimento das tradições
e a diminuição do papel da religião na vida cotidiana (Uma das reações a essa
diminuição é o crescimento de certas igrejas, como a evangélica, nas quais os
crentes desenvolvem aspectos importantes de vida comunitária).
Essas
mudanças conduzem, de um lado, ao conflito, à instabilidade e as tensões
psicológicas; de outro, à liberação dos sistemas de controle e de coerção, e as
novas oportunidades para o desenvolvimento humano.
A
CULTURA DO INDIVIDUALISMO
A
Sociologia contemporânea atualizou certos conceitos de comunidade e sociedade,
de acordo com as novas relações sociais que vêm se estabelecendo entre os
indivíduos. Um novo tipo de vida, que se baseia em relações sociais
acentuadamente indiretas, são os chamados singles (pessoas que preferem viver
sozinhas).
No
Brasil, há quase 4 milhões de pessoas que vivem sozinhas em seus domicílios. As
explicações são razões demográficas, econômicas ou particulares: as pessoas se
casam menos e com mais idade (o número de solteiros é cada vez maior), o grupo
dos descasados também aumenta (cerca de 150 mil pessoas se divorciam anualmente
no Brasil), os casais tendem a ter menos filhos do que antigamente, é comum
que, na separação, cada um arrume seu próprio canto, e há também o aumento de
expectativa de vida do brasileiro (o número de idosos também aumenta). São
exigentes, têm estilo próprio e colecionam manias: a tribo dos singles não para
de crescer. Essa tendência é mundial. Nos Estados Unidos há 26 milhões de adultos
que moram sozinhos por opção.
UMA
INTERPRETAÇÃO SOCIOLÓGICA DA “TENDÊNCIA SINGLE”
Os
singles são sistemáticos e individualistas. Alguns estudiosos acreditam que o
individualismo leva à percepção de que é desvantajoso estar com outra pessoa.
Os singles confessam uma certa intolerância para com o outro, prevalecendo o
egoísmo. A dificuldade de estabelecer relações duradouras e o fortalecimento do
individualismo poderão gerar alguns dos principais problemas sociais num futuro
próximo. Eles são cada vez mais numerosos nas grandes metrópoles do que no
campo (onde os estímulos para uma vida comunitária e solidária são mais
fortes): um terço deles vive em cidades com mais de 1 milhão de habitantes. Ao
mesmo tempo, sua formação educacional está acima da média: são geralmente
bem-sucedidos na carreira profissional, ganham bem e moram, de modo geral, em
casas confortáveis.
INDAGAÇÕES,
MUDANÇAS E DESAFIOS
Embora
as metrópoles contribuam para o surgimento de novos estilos de vida, as
mudanças não são muito freqüentes nos bairros pobres da periferia, onde o
código moral se baseia, em geral, na ajuda mútua e podem-se encontrar relações
intensas de vizinhança, nas quais os indivíduos estabeleçam contatos sociais
diretos, com ações de solidariedade. Mesmo numa sociedade igualitária,
preservam-se certos valores, a vida gira em torno da família, do local de
moradia, das relações de vizinhança. O vizinho passa a ser quase um membro da
família, um companheiro nas horas de apuro.
Entretanto,
a velocidade com que estão se dando as mudanças na sociedade societária traz
novos desafios: o assustador aumento da criminalidade e as dificuldades para
combatê-la. Embora, em alguns lugares a solidariedade continue forte em alguns
lugares da periferia, ela perde sua força nas grandes cidades; antigas
instituições sociais sofrem duros golpes em sua credibilidade e legitimidade.
Tudo favorece o comportamento individualista que se manifesta inclusive no
desenvolvimento de estratégias de estratégias de autodefesa pessoal ou de
procurar “fazer justiça pelas próprias mãos”. Mesmo algumas relações de
vizinhança, onde persistem as manifestações de vida comunitária, poderão não
sobreviver ao individualismo crescente, que tende a se universalizar.
Com
seu estimulo ao consumo e à competição desenfreada, a economia capitalista,
dinâmica e tecnologicamente inovadora, colabora para reforçar a cultura do
individualismo e o isolamento; favorece a formação de uma sociedade
egocêntrica, com uma frágil conexão entre seus membros, na qual as pessoas
buscam satisfazer apenas suas necessidades e impulsos. Numa sociedade desse
tipo, a satisfação individual está acima de qualquer obrigação comunitária.